Pelo? Tamanduá-bandeira?
Rodrigo
O pelo (ou pêlo) de animais silvestres apresenta características importantes relacionadas a cada espécie, sendo por essa razão interessante saber identificar esse tipo de material biológico. Todas as informações que conseguimos observar em campo auxiliam a uma melhor compreensão da Zoologia. Na fotografia apresentada de uma mãe com filhote (Marcelo Calazans), é possível perceber a diversidade de pelos que tamanduás-bandeira têm. Mas se fosse possível encontrar pelos soltos na natureza? Com o seguinte material, você consegue afirmar se há pelos? Há apenas pelos?
Em uma de nossas campanhas em campo, encontramos um material que seria mais uma porção de gramíneas, mas que também poderia ser pelos de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Aconteceu já com as primeiras chuvas da atual estação, mas ainda com a presença de sol em alguns dias. Em função de um declive da área, esse material havia sido espalhado com a água da chuva. Ao investigar mais o local foi possível encontrar o animal, em avançado estado de decomposição e fragmentado. Feitas as observações e anotações, foi possível identificar as semelhanças entre essas gramíneas e os pelos de um tamanduá, o que deixa a camuflagem uma possibilidade impressionante e demostra como a natureza pode ter formas incríveis de se expressar. Estudos em vida livre indicam para o hábito do tamanduá se cobrir com a cauda sobre o próprio corpo, sendo então uma forma de estar camuflados quando dormem. Nesse sentido os pelos combinados a alguns vegetais podem ser facilmente confundidos, um recurso utilizado por muitas espécies como forma de proteção própria, da prole e que permite uma maior a sobrevivência.
Com relação ao pelos, existe uma grande variedade para tamanduás-bandeira, desde pelos mais curtos e grossos até pelos mais longos e finos, além de tons bem diferentes; os pelos dorsais e da nuca, têm entre 2 a 4 cm, são curtos, muito espessos, rígidos e têm cores que vão do branco ao preto, passando pelo marrom e tons de amarelo; já os pelos da cauda são mais longos e podem atingir até 40 cm, por vezes espessos mas em alguns pontos mais finos. Essa quantidade de informações está organizada em uma área do conhecimento, a Tricologia. Trata-se do ramo da ciência que estuda pelos, que são apêndices de queratina, filiformes (na forma de fio) e coniformes (na forma que lembra um cone, com a raiz mais robusta). A presença de pelos é uma das marcantes caraterísticas dos mamíferos. Além da camuflagem, os pelos têm as funções de termorregulação e de interação com o meio e outras espécies. Assim, é por ter pelos que alguns animais conseguem sobreviver a temperaturas mais severas. No próprio Cerrado, em plena área tropical, as temperaturas chegam muito próximo a zero, e com a força do vento, a sensação térmica vai a número negativos. É também através dos pelos que animais podem disseminar material biológico na natureza, de outras espécies inclusive.
Na Biblioteca
Para estudos nessa área, existe o 'Guia de Identificação de Pelos de Mamíferos Brasileiros' de muita utilidade e que foi publicado em 2014 pela Ciências Forenses – Editora da Academia Brasileira de Ciências Forenses. Essa é uma obra que reúne informações técnicas que auxiliam para o conhecimento sobre mamíferos e na investigação de delitos da área ambiental, de autoria de Guilherme de Miranda, Flávio Rodrigues e Adriano Paglia. É uma referência importante para essa área do conhecimento.
Sobre as perguntas no início dessa postagem, o que é? A melhor descrição do que está presente na fotografia vai receber o Guia de Identificação de Pelos de Mamíferos Brasileiros gratuitamente. Para participar é simples: você precisa enviar por e-mail ao Instituto as suas considerações, de forma descritiva, a respeito do material apresentado. Todas serão analisadas e a melhor ganhará o livro. Por isso participe dessa atividade, uma forma simples de exercitar a sua capacidade de escrita sobre o mundo natural.
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