Tamanduá-bandeira, natureza e biodiversidade!

Natu 5

Na trilha ● Fogo no campo e o período de seca
A velha discussão de não jogar bitucas de cigarro na beira de rodovias, não é de hoje. Contudo, é um assunto que costuma entrar em voga, principalmente, no período da estiagem sendo o mais favorável ao aumento de ocorrência de incêndios. Esse tipo de ameaça é uma combinação de seca e ações antrópicas. As queimadas contribuem para a emissão excessiva de gases, perda da biodiversidade: provocando afugentamento, desabrigo e morte da fauna, destruição da vegetação e desertificação ambiental. Portanto, além de não jogar bituca de cigarro pela janela do carro em movimento, evite colocar fogo em folhas secas, galhos, móveis ou lixo; conduza os resíduos recicláveis ao local correto de descarte; não jogue lixo em terrenos baldios e leve essas informações à sua família e comunidade. Esse tema precisa ir além da aula de educação ambiental, é necessário ter uma mudança de hábitos e manter boas práticas em cooperação com o meio ambiente.

As pererecas-macaco são anfíbios do gênero Pithecopus, ou seja pererecas reticuladas e que possuem um lindo padrão de desenho no flanco. Tais espécies são especialistas de riachos de montanhas, ecossistemas raros e sensíveis nas paisagens de Cerrado. Elas ocorrem apenas em áreas altas do Cerrado brasileiro, onde usam riachos de águas cristalinas para reprodução. Dessa forma, a presença desses animais é um indicador de boa qualidade ambiental. https://www.lafuc.com/pithecopus-ayeaye  

  
No Instituto ● Dia Nacional do Cerrado (11/09)
O Dia Nacional do Cerrado (11/09) é comemorado desde 2003 com o intuito de convidar a população a refletir e mobilizar-se em sua defesa, pois mesmo diante de sua importância, ainda não é reconhecido como Patrimônio Nacional. Essa iniciativa colabora para sua valorização, respeito e conservação. O Cerrado é a savana mais biodiversa do mundo, por isso, chamado de Hotspot. Aqui há cerca de 330 mil espécies de plantas e animais com considerável número de espécies endêmicas. A flora ainda pouco estudada e pouquíssimo protegida, que perde em riqueza de espécies apenas para a Amazônia, carrega cerca de 12.356 mil espécies, onde 4 mil são endêmicas. Nesse contexto, é preciso ter atenção e cuidado ao observar as belezas desse bioma, assim como, tê-lo com prioridade para a conservação. Por ser um bioma com duas estações bem definidas, um verão chuvoso e inverno seco, as plantas possuem adaptações de extrema importância para sobrevivência em períodos julgados como desfavoráveis. Esse belo show de adaptações começa com as sementes que passam por um período de dormência, até que tudo esteja pronto para germinar e então, não desperdiçar energia e trabalho. Logo depois, podemos falar das raízes profundas, capazes de captar água a longas distâncias, por esse motivo, o Cerrado é conhecido como uma floresta invertida.

No mundo ● Brasil: Fogo no Pantanal 
Nada menos que a maior Planície Inundável do mundo, perdeu só em 2020, cerca de 17.500 km² de vegetação. Isso representa 10% de toda a área de ocorrência de um dos biomas mais importantes do mundo. O monitoramento de queimadas no pantanal começou em 1998 pelo Inpe (Instituto Nacional de pesquisas espaciais), e desde então, nunca houve tantos focos de incêndio de janeiro a agosto. O fogo se alastrou tão rapidamente, que até mesmo os animais como: jacarés, cobras, macacos e antas que conseguiam escapar das chamas, morreram carbonizados. Além disso, o entorno do refúgio das araras azuis, que se encontra com status de vulneráveis, segundo a União Internacional de Conservação da Natureza, também foi coberto pelas chamas. Cerca de 90% dos casos de incêndio no Pantanal é devido às ações humanas: queimadas provocadas por práticas primitivas da agricultura, o desmatamento da Amazônia que influencia no regime de águas do bioma e também a pouca vazão dos rios que nascem no Cerrado, que enfrenta contínua perda de vegetação nativa e conta com pouca proteção ambiental. 

 
Entrevista ● Cupins: insetos sociais por Tiago Carrijo 
Tiago possui graduação em Ciências Biológicas, e muita experiência na área de Entomologia. Desenvolveu um projeto de pós-doutorado com Filogeografia de uma espécie de cupim no Museu de Zoologia da USP e Universidade da Flórida (2013-2016). Atualmente é Professor na Universidade Federal do ABC, na área de Zoologia dos Invertebrados. Tem experiência na área de Entomologia, com ênfase em Biologia, Ecologia, Sistemática e Genética de populações de cupins (Isoptera). 


O que o levou a estudar Ciências Biológicas?
Eu sempre gostei de animais e de estar no mato. Ainda cheio de dúvidas, eu prestei vestibular para os cursos de Veterinária, Engenharia Florestal e Biologia. Acabei passando apenas para Engenharia Florestal, em Brasília, e Biologia, em Goiânia. Talvez por conveniência, na época preferi ficar na minha cidade natal e cursar Biologia na UFG.

Sempre quis atuar na área da Entomologia?
Assim como não tinha um curso de graduação bem definido na cabeça, também não tinha uma linha de atuação definida no começo da graduação. Quando fiz a disciplina de Zoologia dos Invertebrados, o trabalho final era fazer um levantamento de invertebrados de uma área em Goiânia. Eu gostei muito do trabalho e isso me levou a fazer o Curso de Verão em Entomologia na USP de Ribeirão Preto. Quando voltei do curso, logo fui buscar estágios com dois temas que muito me chamaram a atenção: insetos sociais (com cupins) e insetos galhadores. Comecei os dois estágios simultaneamente, e gostava muito dos dois assuntos, mas logo consegui uma Iniciação Científica no laboratório dos cupins, e aqui estou até hoje, 15 anos depois, ainda com eles.

Poderia falar sobre insetos sociais?
Eu poderia falar várias páginas sobre os insetos sociais! Mas prometo tentar deixar essa resposta o mais curta possível. =) Comportamentos sociais vão desde interações simples entre indivíduos da mesma espécie, até interações bem complexas. Geralmente chamamos de insetos sociais apenas alguns grupos que possuem um tipo de organização social muito complexa, e são classificados mais especificamente como eussociais. Esses grupos incluem: todos os cupins e formigas, algumas vespas e abelhas, e ainda algumas espécies de afídeos, tripes e uma única espécie de besouro. 

Para ganhar o “carimbo” de eussocial, uma espécie precisa apresentar algumas características específicas, sendo a principal delas a existência de uma divisão de trabalho reprodutivo entre os indivíduos das sociedades daquela espécie. Nas colônias (sociedades) de cupins, por exemplo, temos geralmente apenas dois indivíduos que são responsáveis pela reprodução da colônia (a rainha e o rei - sim, cupins também possuem reis!), enquanto todos os outros indivíduos são responsáveis por tarefas como buscar alimento, cuidar dos jovens, defesa etc. 
Por existir esse nível de comportamento tão específico e organizado, gostamos de fazer uma analogia entre as colônias de insetos (eus)sociais com um organismo multicelular e seus sistemas e órgãos. 

Quando pensamos em uma colônia de cupim, devemos imaginá-la como um “superorganismo”! Nele, o rei e a rainha são análogos às nossas células reprodutivas, nos testículos e ovários, enquanto os operários e soldados, que não se reproduzem, são como nossas demais células do corpo, e fazem papéis análogos, por exemplo, aos do sistema circulatório, levando alimento para as outras “células”, e ao sistema imune, protegendo o organismo de invasores. Além disso, todos os indivíduos se comunicam de forma tão eficiente, através de sinais químicos e vibracionais, que é como se a colônia tivesse um sistema nervoso próprio, análogo ao nosso. 

Esse tipo de organização foi muito eficiente evolutivamente, fazendo com que esses grupos sejam hoje extremamente abundantes na natureza. Para se ter uma ideia, a biomassa de cupins e formigas juntos é maior que a de todos os outros animais terrestres do planeta juntos - incluindo todas as pessoas(!). 
Enfim, vou parar por aqui. Mas em resumo, os insetos sociais são fascinantes!

Dentre os seus projetos quais exigiram mais atenção e trabalho? Por quê?
É possível que tenha sido meu doutorado. No final do meu mestrado, fui convidado para fazer o monitoramento de cupins nas áreas de influência das Usinas Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia. Durante esse período eu fui diversas vezes para campanhas no campo, além de ter coordenado outras - no total, foram mais 20 campanhas. Todo o material tinha que ser identificado, e relatórios serem feitos para as empresas de consultoria. Uma vez que eu estava realizando esse trabalho enorme, eu aproveitei parte dos dados para escrever minha tese de doutorado. Inclui tanto partes de ecologia, quanto uma parte de genética de populações (que era algo que nunca havia trabalhado antes, mas tinha  muito interesse). Foram mais de 8 mil amostras de cupins coletadas e identificadas. Algumas espécies novas foram descritas e conhecemos mais sobre a biologia de outras. Enfim, foi um trabalho enorme, mas muito gratificante.

Hoje, como docente da UFABC, talvez o projeto que mais tem me exigido seja o Wikitermes, que sou coordenador e que também é algo que nunca tinha feito antes: divulgação científica. Fazer essa “tradução” de informações técnicas e acadêmicas para o público geral é realmente muito um desafio muito grande, e de uma importância imensurável, principalmente nesse momento, onde vemos uma descrença generalizada da ciência não só no Brasil, mas no mundo todo.

Qual o maior desafio para estudar e ensinar sobre cupins?
Comparado com outros insetos sociais, como formigas e abelhas, se sabe relativamente pouco sobre a biologia dos cupins. Ao mesmo tempo que isso é um incentivo para estudá-los, isso faz com que tenhamos muitas limitações para buscar entender padrões maiores, por exemplo. 
Já para ensinar sobre cupins, o maior desafio é quebrar pré-conceitos. As pessoas sempre pensam que existem dois tipos de cupins: os que comem seu armário e os que comem pasto. E por isso existe uma repulsa natural em relação a eles. Claro que isso é compreensível, mas não podemos generalizar para todas as espécies. Existe muito mais sobre os cupins do que o seu armário pode contar.

O que as pessoas ainda não sabem sobre os cupins?
As pessoas não sabem que existem mais de 3 mil espécies de cupins, incluindo algumas centenas que não são conhecidas pela ciência ainda. Também não sabem que dessas 3 mil conhecidas, menos de 12% das foram algum dia registradas como pragas, e apenas 3% realmente são pragas que causam grandes prejuízos para nós. 

Dessas 3 mil espécies, quase 60% na verdade não comem madeira. Essas espécies ingerem solo rico em matéria orgânica (húmus), e extraem os nutrientes dele (basicamente como as minhocas). Além disso, a grande maioria das espécies desempenham importantes papéis nos ecossistemas. Como eu falei antes, a biomassa dos cupins é enorme. Agora imagina todos esses bichinhos realizando decomposição de matéria orgânica e cavando o solo das florestas (e plantações também!)? Eles ajudam a aumentar a permeabilidade de água no solo e disponibilidade de nutrientes para as plantas. Através da alimentação, muitas espécies ajudam na fixação de nitrogênio também. 
Para saber mais sobre esses insetos incríveis, eu lhe convido a visitar o site do Wikitermes e nos seguir nas redes sociais (Facebook e Instagram). Como disse acima, esse é um o projeto de divulgação científica sobre cupins, onde buscamos mostrar para as pessoas a importância e curiosidades sobre esses insetos que ganham uma fama de “vilões” por causa de algumas poucas espécies.

Qual orientação pode dar a um estudante de biologia que almeja trabalhar com insetos?
Acho que a principal orientação é a mesma para qualquer estudante de biologia. Procure um bom orientador. Busque laboratórios colaborativos e com bom ambiente de trabalho. Vá em encontros e congressos na área de interesse. E no caso específico para quem quer trabalhar com insetos: vá fundo! Precisamos de mais entomólogos no mundo! E digo isso para todas as linhas de pesquisa, indo da taxonomia e ecologia ao controle e biotecnologia.

Lab ● Técnica de reciclagem de papel 
A reciclagem é o ato de recuperar de modo total ou parcial algum produto para que seja utilizado como matéria-prima para produzir um novo produto. Trata-se de uma das possíveis soluções para o problema ambiental do lixo. Vários materiais, tais como plásticos, metais, vidro, tecidos e o papel, podem passar por processos de reciclagem que trazem contribuições ambientais inegáveis. No caso do papel, isso representa uma redução no desmatamento de árvores, visto que no Brasil, por exemplo, 80% do papel produzido é feito a partir da madeira. A reciclagem de uma tonelada de papel evita a derrubada de cerca de 20 a 30 árvores adultas, além disso, também economiza outros recursos naturais como a água, a energia elétrica (consome 71% menos de energia elétrica) e polui menos o ar em 74%. Para realizar a técnica de reciclagem de papel podem ser utilizados papéis como jornais, revistas, folhas de caderno, etc., juntamente com outros materiais: liquidificador ou mixer, bacia ou balde, água, moldura com tela fina ou peneira e uma colher e siga o modo de fazer. Primeiramente, pique os papéis em pequenos pedaços e coloque na bacia de modo a cobrir quase totalmente o conteúdo. Em seguida, despeje a água, fazendo com que todos os pedaços de papel se molhem. Posteriormente, bata o conteúdo no liquidificador ou mixer e despeje-o em uma bacia, grande o suficiente para que a tela caiba dentro da mesma. Em seguida, mergulhe a tela na bacia até que a mesma fique coberta pela mistura. Retire a tela com cuidado da bacia e alise o resultado com a colher. Por fim, deixe tela secar ao sol por um tempo de 2 hora a 1 dia e logo é só desenformar e utilizar o seu papel reciclado. Faça esse procedimento quantas vezes quiser! Lembre-se, fazer reciclagem de papel em casa, além de divertido, é uma forma de prolongar a vida útil desse item tão presente no dia a dia e contribuir para o meio ambiente. 

Nossos resíduos ● Impactos dos resíduos no meio ambiente 
Muitos são os impactos das ações humanas sobre a natureza. Um deles é a má gestão dos resíduos. Quando não descartamos corretamente nosso lixo, ou não é realizada uma eficiente disposição final, esses materiais vão parar nos ambientes naturais e afetam o equilíbrio da natureza – da fauna, flora e do próprio ser humano. É o caso da presença de resíduos plásticos nos oceanos. Segundo alerta do Fórum Econômico Mundial, em 2016, se não houver mudanças, em 2050 haverá mais plástico do que peixes no oceano. O grande problema é que a fauna marinha confunde os plásticos com alimento, o que vem causando graves prejuízos para a biodiversidade. Na terra também, os animais podem ingerir resíduos que podem não lhes fazer bem e, ainda, o lixo indevidamente descartado pode provocar a poluição da água e do solo. Fique atento: está visitando um parque, fazendo uma trilha? Guarde seus resíduos até encontrar um local adequado para descartá-los! Todos nós agradecemos. 
  
Natu 5 • 25/08/2020 • Perereca-macaco (Pithecopus ayeaye)  • Redação • Direção: Rodrigo Viana; Edição: Nathalia Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Angélica Fujishima; Brenda Menezes; Fotografias: Tiago Carrijo; Tiago Pezzuti; Perereca-macaco com texto adaptado LAFUC.

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