Tamanduá-bandeira, natureza e biodiversidade!

Natu 13



Na trilha • Manejo de fauna e os mecanismos de defesa animal 
Você já ouviu falar em manejo? De acordo com o dicionário Michaelis é o ato ou efeito de manejar; maneio, manuseio. Mas por que falar disso? É comum as pessoas encontrarem animais nas trilhas e querer pegar nas mãos, principalmente, para fotografar. Essa prática é expressamente desaconselhável. Tire fotografias à vontade, mas respeite o limite de segurança, entre você e os animais.

Primeiro, existe um grande risco de transmitir vírus, parasitas, fungos, protozoários ou bactérias que são nocivas aos humanos ou que podem ser fatais para os animais. Além disso, alguns agentes etiológicos de zoonoses podem estar presentes no animal, sendo assim, há chances de sermos veículos de doenças com significativo impacto na saúde pública. Segundo, estressar o animal desnecessariamente e causar reações adversas. Alguns animais possuem mecanismos de defesa contra o predador que são verdadeiras obras da natureza. Por exemplo: a autotomia que consiste na amputação espontânea ou auto mutilação de membros do corpo de alguns animais como aranhas, lagartos e salamandras. Eles fazem isso de forma involuntária, a fim de evitar o ato de predação. Esses membros voltam a crescer com o tempo, mas é notável que não vale a pena fazer o animal passar por esse estresse e gastar energia à toa para repor algo depois, só pela curiosidade de pegá-los nas mãos. 

A camuflagem também é um mecanismo de defesa, no qual o animal imita, involuntariamente, o ambiente para ficar disfarçado quando está mais vulnerável à predação. O lagarto-verde (Ameiva ameiva) tem cores que servem de camuflagem. Um outro lagarto ocorrente no Cerrado, o lagarto-da-cauda-azul (Micrablepharus maximiliani) possui o corpo de uma cor menos chamativa e a cauda totalmente diferente, isso faz com o que o predador ataque sua cauda e não atinja a região de órgãos vitais. Alguns anfíbios como a perereca-verde (Hypsiboas prasinus), são capazes de mudar de cor durante o ano, na época das chuvas elas ficam mais esverdeadas e na época seca ficam mais amarronzadas, imitando as folhas mais secas. E aqueles sapinhos ou serpentes bastante coloridas se destacando no ambiente? Essa coloração se chama aposemática, que quer dizer também uma coloração de advertência. Certamente, esses animais têm alguma toxina na pele ou alguma outra maneira de inoculação de veneno. A coral-verdadeira (Micrurus lemniscatus) é um exemplo de animal que possui coloração aposemática. Já o mecanismo tanatose, talvez seja o mais interessante: o animal se finge de morto para despertar o desinteresse do predador. Esse comportamento é um mecanismo de defesa que pode ser observado em anfíbios e répteis como lagartos e serpentes. 

Percebeu quanta coisa interessante a natureza traz, para defesa dos animais? Sendo assim, quando estiver na trilha ou no campo e encontrar esses seres, tire as fotografias de longe, depois divulgue e mostre às pessoas a importância de conservar o meio ambiente e respeitar os animais. 

Da natureza nada se tira além de fotos, nada se deixa além de pegadas e nada se leva além de lembranças.” (Rodrigo Milla).




Espécie • Pato-mergulhão - Mergus octosetaceus 
O pato-mergulhão, também chamado de mergulhador e embaixador das águas brasileiras, é uma ave anseriforme, da ordem das aves aquáticas. Seu registro foi confirmado em três bacias hidrográficas bastante conhecidas e importantes: São Francisco, Tocantins e Paraná. É uma espécie pouco tolerante à poluição e outras formas de degradação ambiental, só habita em áreas conservadas, em ecossistemas em equilíbrio. Por esse e outros motivos, no mundo, há uma estimativa de apenas 250 indivíduos. Esse pato possui um bico serrilhado e longo, é capaz de predar presas vivas em seu mergulho. São monogâmicos, territorialistas e possuem membranas interdigitais. Reproduzem de maio a agosto com acolchoados com folhas secas e penas, para que fiquem bem aquecidos. Colocam até oito ovos e os filhotes nascem todos no mesmo dia. No Brasil, ocorre no Cerrado e Mata Atlântica, sendo possível encontrar na Chapada dos Veadeiros - GO, Jalapão - TO e na Serra da Canastra - MG, onde há cerca de 140 indivíduos. 
Em 2017 foi criado o Segundo Ciclo do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pato-mergulhão sob coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Esse Plano possui cerca de 23 ações com execução até 2023 e 12 instituições envolvidas. Para saber mais informações, acesse aqui.

O status de conservação para o Pato-mergulhão no Brasil e no mundo (IUCN) está criticamente em perigo. Esse fato se dá pela preferência da espécie em habitar águas limpas e cristalinas. Se levarmos em consideração a situação vulnerável dos recursos hídricos, vamos entender claramente o que se passa. Além disso, o desmanche da mata ciliar, desproteção dos cursos d'água, assoreamento, expansão agropecuária, presença humana em seu habitat natural, também são razões que levam à perda dessa espécie. 
           





Entrevista • A paixão por todas as formas de vida por Cláudia Martins 
Engenheira Agrônoma pelo Instituto Superior de Agronomia - Universidade de Lisboa (ISA/UL), Portugal, com especialização em Agricultura Tropical, Mestre em Ecologia Aplicada, ESALQ/USP, com ênfase na construção de indicadores de sustentabilidade em sistemas de produção intensivo e semi-intensivo de jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) e Doutora em Ecologia Aplicada, pela Universidade de São Paulo, campus de Piracicaba (ESALQ/USP), na temática das dimensões humanas das relações humanos-onças (pintada e parda) na Caatinga. Atuou com políticas públicas na coordenação de projetos e cooperação internacional, com educação ambiental, no Ministério do Meio Ambiente e em representações de governos estrangeiros (Índia e Bangladesh), em Brasília. Atua como Pesquisadora em Ciências da Terra, no Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE, com a temática da prevenção à desertificação nas vilas produtivas rurais do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) e mediação de conflitos socioambientais em unidades de conservação e Pesquisadora associada do Instituto Pró-Carnívoros. Também é pesquisadora co-fundadora do Programa Amigos da Onça: Grandes Predadores e Sociobiodiversidade na Caatinga.




Conte-nos sobre a experiência da prevenção à desertificação nas vilas produtivas rurais (VPRs) do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF).
Essa é uma experiência muito nova: comecei em Julho de 2019, sendo a desertificação um tema inteiramente novo para mim. Ingressei em uma equipe já consolidada, de profissionais que respeito muito, para executar um dos 38 programas socioambientais do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), alocado no Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (NEMA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), em Petrolina, PE. Por mais que tivesse “visitado” o assunto durante o tempo em que atuei no Projeto de Educação Ambiental na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), quando trabalhei como consultora baseada no Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília; por mais que resida desde 2014 no semiárido, é impactante tomar contato com o processo de desertificação (diferente da desertização, que é um processo natural), acelerado e acentuado pelas atividades humanas, sejam o manejo inadequado do solo e/ou a ocupação inadequada do território. É impressionante a diversidade de condições de solo e de clima que o Brasil tem associados à sua grande extensão territorial. Introduzo desta forma para lembrar que as secas são classificadas como desastres naturais, mas a semiaridez e a aridez são características e não problemas. É óbvio que a carência de água, em quantidade e qualidade, limita a qualidade de vida (todas as formas de vida). Mas como dizia o genial Ariano Suassuna, ‘não se combate a neve na Sibéria’ – quão sensato é combater a seca no sertão? Mais impressionante que a diversidade de solos e de clima no Brasil, são as adaptações de plantas, animais e sociedades humanas às regiões secas. Lembremos que grandes civilizações prosperaram nas matas secas da América Latina e nas regiões secas do Médio Oriente. Obviamente isso exigia um conhecimento profundo de seus territórios, uma sabedoria no uso de recursos limitados e uma não-complexidade de seus modos de vida. Trazendo para a nossa realidade, que é uma parte de meu trabalho nesse programa de prevenção à desertificação, um dos seus objetivos é implantar tecnologias de base social em três das 18 vilas produtivas rurais para conservar o solo e a água do solo por mais tempo durante o período de estiagem; e outro objetivo é disseminar o conhecimento sobre essas tecnologias, como forma de promover a convivência com o semiárido. Não falta água – falta gestão da água. Tem lugares no Brasil onde a água abunda (rios permanentes, boas precipitações distribuídas ao longo do ano) – e as populações humanas carecem de água para seus cultivos ou adoecem por causas relacionadas à péssima qualidade de água que bebem e ao deficiente (ou mesmo ausente) saneamento básico. Não é apenas a quantidade de água que determina o conforto hídrico de uma pessoa, família, comunidade, atividade econômica ou bacia hidrográfica. É a gestão da água. De forma concreta, o programa no qual trabalho identifica lugares nas vilas onde possam ser implantadas barragens subterrâneas, barragens sucessivas ou barragens de detenção, que dependerão de critérios técnicos, da necessidade e do uso que se espera que os moradores façam delas. Sempre lembrar que as pessoas que moram nas VPRs são reassentados, ou seja, como suas comunidades originárias estavam de alguma forma no caminho da obra, precisaram mudar para essas vilas construídas para recebê-las, e receberam casa, lotes irrigados e de sequeiro. Por mais que essa mudança seja motivada por uma obra que foi planejada para levar água para regiões onde ela escasseava e trazer qualidade de vida a milhões de brasileiros, temos de “nos colocar no sapato” dessas pessoas e considerar que para muitos foi traumático: desarraigados de um lugar que lhes pertencia provavelmente há várias gerações, com toda uma história pessoal e familiar atrelada a uma identidade, precisaram começar do zero em um lugar com o qual não tinham vínculo, não escolheram, artificial, planejado por outros, sem história, sem identidade. Então, respondendo à sua pergunta, (i) tenho o privilégio de me familiarizar com esse conhecimento de estruturas criadas pela engenhosidade popular (e apropriadas pela academia e pela administração pública), como resposta adaptativa das populações com uma organização social simples ao lugar onde vivem, plantam, criam; e, (ii) tenho o privilégio de conhecer pessoas que estão construindo uma nova história, pessoal, regional e nacional, associada a uma obra de engenharia ousada e necessária – e que têm de decidir se levarão para as próximas gerações memórias do que perderam, ou se terão coragem de se reinventar e perceber o que ganharam. Pode ser que seja aquela fração da nação que não está na mídia com a frequência que sul e sudeste estão, ou os lugares turísticos estão, ou pessoas proeminentes estão. Mas sem essa pequena e anônima fração… o Brasil não seria Brasil. Merecem todo o respeito e, garanto-lhe, têm muitas lições a ensinar ao país, lições de resiliência, de conquistas e bravuras, de competência, honestidade, de sabedoria associada à chuva, aos rios, às plantas, aos bichos. Com a pandemia eu e meu colega pesquisador que executamos o programa, Anderson Souza, ficamos limitados aos encontros virtuais com os comunitários que têm internet, então, o foco imediato é manter uma relação de confiança com cada vila e adiantar o que de teórico será necessário para as atividades executivas – de implantação das estruturas físicas. Enquanto não for possível retomar o contato social, é o que temos. E com esse limão azedo que recebemos – a pandemia – estamos tendo a oportunidade de fazer mousse de limão da melhor qualidade possível: todas as semanas estamos conectados com uma VPR na Paraíba, driblando a distância física usando a internet, trocando conhecimentos e criando laços!

O quão desafiador é, mediar conflitos socioambientais em unidades de conservação?
Mediar conflitos, de qualquer natureza e independente da geografia e do arranjo do território, é desafiador. Precisamos lembrar que um conflito é real bastando que apenas uma das partes se sinta afrontada, incomodada, invadida ou privada de algum direito. Nem sempre quem causou este impacto negativo do tipo psicológico, emocional, econômico ou outro, sabe que o fez. Por outro lado, é comum que o que parecem ser conflitos socioambientais, tenham outras causas. Concretizando: ‘unidades de conservação são espaços com características naturais relevantes’ (diz-nos a definição, no documento “Sistema Nacional de Unidades de Conservação”, disponível para download no site do MMA e do ICMBio). O modelo brasileiro de áreas protegidas é um modelo inclusivo, ou seja, mesmo tendo categorias de proteção integral, como os Parques Nacionais ou os Refúgios de Vida Silvestre, ainda são permitidas atividades de pesquisa e educação ambiental. É previsto que as pessoas façam parte da conservação, por princípio. E as categorias de uso sustentável permitem muitos usos sociais e econômicos. Então, pessoas que respeitem os elementos das unidades de conservação que as elevaram a essa categoria e colaborem com o manejo dessas áreas para a sua proteção, são bem-vindas e aliadas. Até aqui, tudo pacífico. O que acontece muitas vezes é a ausência ou deficiente comunicação na velocidade, forma e conteúdo, do que é uma unidade de conservação e se sua implementação mudará algo no modo de vida das pessoas que já moram nesses lugares, por vezes, há gerações. Dependendo da extensão do território, da acessibilidade (estradas, telefone, internet) e da vulnerabilidade socioeconômica (nível de escolaridade, faixa etária, atividades de subsistência…), muitos talvez nem fiquem sabendo ou consigam fazer-se presentes nas audiências pré-criação das unidades, para ouvir, perguntar, entender o que elas são e como ambas as partes, órgão gestor e comunidades, precisarão ajustar-se para conciliar comportamentos, hábitos, interesses e atividades a favor da conservação. Também existe ruído na comunicação: às vezes setores econômicos, indivíduos exercendo funções na administração pública local e até entidades da sociedade civil organizada, por desconhecimento ou má fé, trazem informações imprecisas e controversas, deixando as pessoas com medo e resistentes – sem saber ao quê e porquê. É muito delicado este emaranhado de relações que aqui descrevo, porque todos têm opiniões públicas e privadas, e muitas vezes não são as mesmas; e laços pessoais ou institucionais, dos quais dependem ou aos quais sentem que devem lealdade. Então, para dar apenas um exemplo, pode haver oposição à chegada de uma unidade de conservação cujo foco seja a conservação de uma espécie carismática, como a onça-pintada, se eu tradicionalmente manejo meu gado e criações domésticas de forma extensiva e se a instituição não governamental que me dá assistência técnica diz que não o poderei continuar a fazer como sempre fiz. Outro exemplo é quando o poder econômico se sobrepõe ao interesse ecológico de uma área. Dou-lhe um exemplo: as cidades demandam cada vez mais energia elétrica, vive-se num sistema acelerado, empresas e indústrias trabalham 24 horas/dia, 7 dias/semana, 365 dias/ano. Máquinas precisam funcionar, funcionários precisam ter conforto térmico, comunicações não podem ser interrompidas. Isso demanda muita energia! Vamos achar locais de elevado potencial de geração de energia, para estar de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, energia menos dependente dos combustíveis fósseis – de base renovável, então, solar e eólica. Percebe que a maior parte desses lugares coincidem com regiões de elevada diversidade da flora e da fauna, muitas vezes ecossistemas sensíveis, como os dunares ou os de montanha? Olhe que dilema ético e que desafio na mediação de um conflito socioambiental: para suprir a insaciável demanda urbana e industrial por energia, ocupo regiões até então remotas, áreas de vida de espécies ameaçadas de extinção e/ou indicadoras da integridade de um ambiente, que coocorrem com populações humanas dependentes dos recursos naturais, vulneráveis, que muito pouco contribuem para as alterações climáticas… e que verão seu “quintal” tornar-se em usina geradora de energia para atender uma necessidade longínqua, sendo que sua vida simples e muitas vezes longe de ter as amenidades a que estamos acostumados, continuará simples, e, talvez, mais arriscada. Conflitos socioambientais acontecem à escala do indivíduo (quando eu discordo de você ou tenho ressalvas em aceitar a proximidade de uma espécie ou de uma unidade de conservação, por exemplo), até à escala transnacional. Em unidades de conservação exige que o diálogo entre gestores, pesquisadores, comunidades, academia, meios de comunicação, poder público… seja regular, aberto, honesto e conciliador. Ufa! Não é fácil, mas é necessário que aprendamos a fazê-lo de imediato.

O Programa Amigos da Onça recebe voluntários e estagiários? Se sim, quais os pré-requisitos?
O Programa Amigos da Onça recebe voluntários e estagiários, sim, até hoje prevalecendo a demanda espontânea. Ou seja, ainda não abrimos chamada com vagas para alguma de nossas linhas de atuação, mas se um estudante ou profissional deseja vivenciar o que é ser pesquisador de campo, no sentido de ter de lidar com questões reais, seja com fauna, seja com pessoas e suas relações com a fauna, em todas as suas etapas, desde a prospecção de recursos, proposição de projetos, atividades de campo com monitoramento de fauna ou coleta de dados sociais, ou divulgação de resultados, colaborando com nossas mídias, para mencionar apenas alguns exemplos – pode entrar em contato conosco, que faremos um movimento no sentido de conjugar seu interesse com alguma demanda específica do Programa. É interessante quando a pessoa tem vínculo com Universidade, seja na graduação ou na pós-graduação, já que gerar um produto a partir de sua experiência no Programa fortalece ambas as partes. Mas pode não ter e ainda assim ser um grande auxílio para nossas atividades. Então, talvez o desejo de fazer conservação pela conservação, pelas espécies, pelos seus habitats, desejo de aprender e partilhar o que já sabe, sejam requisitos tão importantes quanto um currículo bem organizado.

Quais os maiores desafios no fundar/co-fundar o Programa Amigos da Onça?
Da equipe fundadora apenas Cláudia Campos já tinha algum conhecimento da região, in loco, uma vez que ela era colaboradora do Cenap/ICMBio para o levantamento de mamíferos de médio e grande porte no submédio São Francisco. Nesse processo ela fez várias expedições a campo, coletando dados de fauna e aplicando um protocolo de mapeamento de conflitos com as populações rurais. Carolina Esteves e eu conhecemos a região de passagem em 2012 e eu mudei-me para cá só em 2014. É verdade que redigir um projeto ou um programa é seguir um modelo de projeto, com objetivos, métodos, materiais, recursos humanos, resultados esperados, indicadores de sucesso…. É possível propor algo nos baseando em referências bibliográficas sobre um tema ou uma região, pensando no/s próximo/s passo/s, ou seja, de que forma intencionamos acrescentar conhecimento ou mudar algo, após quem nos antecedeu. Porém, o desejável é perceber e conhecer o lugar e seus componentes em todas as dimensões possíveis, de recursos, de potencialidades, de limitações, de pessoas, flora, fauna, e as relações de todos com todos. É quase o trabalho do naturalista aliado ao do antropólogo – e pediria uma vida inteira (duas!) para ser feito da forma mais acurada possível. Infelizmente não dispomos desse tempo e nem de dinheiro para submergir em realidades tão diferentes da nossa, antes de propor alguma intervenção. Então, entre os desafios posso mencionar a necessidade de: (i) sair daquilo que nos é familiar, em termos de conceitos, linguagem verbal e não-verbal, modos de vida, relações interpessoais, relações instituições-pessoas, recursos naturais e acesso a recursos que julgamos universais, (ii) entrar em um outro Brasil, com uma história única, um tecido social quantas vezes produzido com amor e quantas (tantas!) vezes, com muita dor, diferentes condições climáticas e dinâmicas de relações com a Natureza, (iii) ouvir, ouvir, ouvir, sem julgar – na verdade, como se fosse o preparo de um alimento, juntar relatos, vivências, trazer para casa, colocar numa panela que esvaziamos, e temperar com muitas leituras, de outros tempos e memórias, de outras disciplinas, de outros lugares, onde haja similaridade de clima e adaptações a ele, de arranjos sociais e institucionais… e, depois de tempo, cuidado e conselhos de ‘chefs’ mais experientes, servir o alimento pronto, ou seja, comunicar com clareza e respeito o que aprendemos, sabendo que ainda virão críticas, comentários, ajustes, porque nós não somos dali e não detemos a verdade, porque ela não é uma só. Outros desafios que não posso deixar de mencionar são (iv) prospectar recursos para trabalhar em uma região que, por desconhecimento ou intenção, foi preterida pela pesquisa por longas décadas – especulo que também isso seja herança da colonização que foi seduzida pelo tangível, pois o que fazia os olhos materialistas brilharem eram as luxuriantes florestas tropicais úmidas, com suas madeiras, alimentos e minérios, e os sertões… eram os sertões, apenas interessantes para o refrigério dos animais nas terras mais altas quando estiava no litoral e os senhores dos engenhos enviavam seus homens com o gado para lá; e, (v) conciliar personalidades e experiências de vida e de conhecimento dentro da equipe e da equipe com aqueles com quem interagimos. De novo, sempre que se trata de conflitos humanos-fauna, parece que pesam mais as relações interpessoais e o impacto delas sobre a fauna. Pesquisadores são pessoas comuns, que escolheram uma determinada carreira e profissão. Mas isso não os isenta de todo o caminho que percorreram para chegar até onde estão. Hoje consigo presumir com mais facilidade o contexto de criação e de formação acadêmica de uma determinada pessoa a partir de suas falas e comportamentos. Por exemplo, em regra, alguém que cresceu (como indivíduo e como profissional) sentindo que foi privado de algo importante para essa sua construção, terá grandes dificuldades para ser aberto, confiante e generoso. Talvez ele não saiba verbalizar o que faltou, se suporte emocional, financeiro, intelectual, mas ele vai ter dificuldade em partilhar aprendizados, tanto os obtidos com alegria e conforto, quanto os com obstáculos e lágrimas. Na escassez a prioridade é sobreviver – e embora a Natureza nos ensine que colaborando isso é menos penoso e com maiores chances de sucesso… nós somos maus observadores e piores aprendizes, e insistimos em competir, por esconder, protelar ou tergiversar. Encontramos colegas de várias áreas do conhecimento que antes que saibamos o que nos falta, eles já estão se doando para nos ajudar. E encontramos colegas a quem pedimos auxílio, orientação, ajuda prática, consultas intelectuais, materiais, referências, e conseguimos muito pouco ou nada. Igual perspicácia precisamos aprender a desenvolver para bons tratos com não acadêmicos. Parece que viajei na resposta à sua questão, mas basta lembrar-nos que um programa de conservação de duas espécies ameaçadas em seus habitats é composto por pessoas e dependerá de pessoas, indivíduos ou instituições, para obter informações que lhe permitam delinear estratégias adequadas à proteção da fauna e ainda promover a qualidade de vida das pessoas que coocorrem com a fauna. Então, é um trabalho de longo prazo, e quase artesanal: embora identifiquemos temas guarda-chuva e diretrizes gerais, as particularidades de um município, de uma comunidade, de um setor econômico, de uma instituição, devem ajudar-nos no momento da sintonia fina, de uma intervenção, de uma fala, de uma ação. Isso foi nosso desejo desde a concepção do Programa, continua sendo, apesar da dimensão do desafio. Erramos muitas vezes. E aqui te trago o último desafio (de hoje rsrsrs): errei, verbalizo e assumo que errei, faço o movimento para corrigir o erro e não errar igual novamente. É difícil, porque sabemos que isso compromete o trabalho e decepciona outros. Mas é melhor nos mantermos na configuração que recebemos desde que somos gente, a de ser humano, ao invés de sobre-humano, porque isso cria barreiras com outros humanos e não inspira ninguém a tentarmos ocupar um espaço inatingível. Um humano que peleja, que erra e corajosamente se levanta para ser melhor do que ontem, inspira muito mais. 

Qual foi o momento mais marcante de seu atual estudo com a temática das dimensões humanas das relações humanos-onças (pintada e parda) na Caatinga?
Esta pergunta é a mais difícil… Não sei se teve “o” momento mais marcante porque, até hoje, é um processo que já conta com oito anos, então, muitos momentos aí pelo meio, e porque, de novo, pesquisadores são pessoas comuns que escolheram uma carreira e profissão. Então, a Cláudia Martins não é uma quando está em campo nas comunidades e outra quando está na orla de Petrolina ou em casa lendo um livro. Tudo acontece ao mesmo tempo e no mesmo lugar, se nos permitirmos ser essa coisa nada cartesiana que é observar-questionar-pesquisar-fazer-refletir-… e mais uma série de verbos que estão presentes na vida do que eu brinco que é um pesquisador-all-rounder. Podemos escolher ser pesquisadores (‘researchers’). Ou escolher ser pesquisador de campo (‘practitioner’). Ou podemos escolher ser ambos. Ou podemos nem escolher, mas aceitar que é o que temos em mãos, e que bom, vamos lá ver se somos capazes, errando o menos possível, e animando outros a se juntarem a nós. Na Caatinga, lidando com as dimensões humanas das relações entre humanos e onças, temos de ser multidisciplinares. Então, esse é um momento marcante: estou no lugar perfeito! Nunca fui fã de uma matéria só. Ver a árvore e ignorar a floresta, não seria eu. Outros dois momentos marcantes: gosto de gente, logo, quando percebi que ia ter a oportunidade de aprimorar minhas habilidades para lidar com pessoas, e, sortuda, de aprender com essas pessoas que sabem mais de bicho do mato do que eu, que sou agrônoma (a única não bióloga da equipe rsrsrs). Outro momento marcante: como europeia não fiz a rota convencional de Mata Atlântica ou Amazônia. Como europeia branca, tenho a chance de trabalhar no lugar onde branco é minoria. Olha que exercício marcante: descolonizar minha mente e, se possível, outras mentes. Eu sou a novata, logo, adotar posturas de paternalismo e/ou de toda-sábia seriam a materialização de relações sociais seculares que condeno, ainda que anacronicamente. (Estou gostando desta anamnese rsrsrs…) Claro que há momentos impactantes, como o primeiro questionário aplicado, o primeiro orientando comigo em campo “andando pelas próprias pernas”, a primeira apresentação pública de um pouquinho de meu trabalho, a surpresa e o susto de nem sempre encontrar pessoas receptivas em um lugar onde a regra é que sejam, encontrar jovens com um potencial incrível a quem desejo que a vida seja mais justa e os presenteie com oportunidades para brilharem, falar da Caatinga fora do Brasil (quando sabemos que muitos brasileiros a desconhecem ou ignoram), concluir o doutorado, expandir intelectualmente os horizontes para implicações e desdobramentos de conhecimentos construídos durante o doutorado, ver aumentar a equipe do Programa… e por aí vai! Sempre digo: a diversão é jogar. Se focamos no produto, quando ele vem nos alegramos, mas acabou. Se não vem, nos frustramos. Mas se programamos nossa mente para um jogo infinito – a diversão é jogar. E inspirar mais jogadores, para quando eu me cansar ou precisar ficar no banco de suplente, o jogo não pare.



Descreva seu ponto de vista em relação ao que ainda precisa ser melhorado no monitoramento e conservação de grandes felinos como as onças.
Hum… tecnicamente falando em monitoramento e conservação, qualquer uma de minhas colegas do Programa falaria bem melhor do que eu. De minha vivência e conhecimento, acredito que (i) melhor comunicação entre grupos de pesquisa – entenda, comunicação frequente e franca, baseada na confiança e na ética profissional, além da publicação de artigos ou workshops pontuais, comunicação partilhando dificuldades, constrangimentos, ideias de projetos colaborativos, busca conjunta de financiamento para programas temáticos ou regiões de ocorrência. Acredito que por falta de comunicação acontecem “re-trabalhos” em alguns lugares enquanto em outros carecem trabalhos serem pensados e executados. Pior: deve até acontecer de grupos trabalharem na mesma região e não se conversarem. Pior ainda (rsrsrsrs): na maior parte das vezes comunicam-se os produtos e não os processos, e só as vitórias e não as derrotas. Depois achamos estranho um colega mais novo não saber de forma teórica ou prática determinada coisa. Claro! Ninguém lhe contou. Só contaram as pistas suaves, os morros pedregosos e com espinhos, vai ter de descobrir sozinho. Tratar um futuro profissional como um profissional é bom. Tem o direito de saber em qual barca vai entrar. Acredito que (ii) faltem protocolos unificados de coleta de dados, que poderiam ser concentrados em uma (ou duas) instituição(ões) brasileira(s) (pensando em um backup), como um big data, sendo previamente estabelecidos os critérios de alimentação, gestão, acesso e uso desses dados, pensando na conservação in situ das espécies em paralelo com a produção científica. Acredito que (iii) embora falemos muito em inter-multi-transdisciplinaridade, ainda fazemos pouco disso. Não digo que é intencional, mas é um despreparo nosso, se eu trabalho com monitoramento, por exemplo, será que fico nesse lugar “confortável” de especialista e deixo que os colegas que trabalham com ciências sociais ou recuperação de áreas degradadas façam os seus trabalhos em paralelo e não nos articulamos na troca de saberes, antes e durante o processo? Às vezes é justamente o colega da recuperação quem vai ajudar a entender o comportamento de um indivíduo que eu vejo nas armadilhas fotográficas, ou o colega das ciências sociais quem vai dizer-me se minhas expectativas em relação à presença ou abundância de uma espécie serão atendidas ou frustradas. Claro que temos bons exemplos para nos espelhar, vamos imitá-los! Outra coisa que acredito que podemos melhorar é, (iv) na divulgação de nosso trabalho, irmos além do esperado publicar para os pares, e popularizamos os nossos resultados e conquistas. Se queremos que mais pessoas se tornem aliados da conservação, precisamos comunicar com clareza o que é conservação, o propósito e importância da conservação e conservar o quê ou quem. O modelo de comunicar pela catástrofe ou pelo ônus da perda marca-nos de forma ameaçadora, negativa. Precisamos aprender com quem já está comunicando de forma propositiva, pelo encantamento (a beleza de uma espécie em vida livre em uma área natural), pela justiça (o direito universal à vida e à prosperidade), pela história que há de vir, feita por cada um de nós, a cada dia (onça-pintada, onça-parda, gato-do-mato, gato-mourisco, todos os gatos, todos os carnívoros, toda a fauna, ela não é minha nem sua, ela é deste Planeta e nos precedeu, e nos sucederá – de novo, a infinitude deve ser a motivação para a conservação, também no cidadão comum, ciente que agindo de forma positiva contribui para uma dinâmica maior do que ele mesmo, e isso é muito sedutor). Ah, e isto serve também para inspirar as novas gerações de conservacionistas: contar dos sacrifícios… e das recompensas de participar num processo sem fim.

Como Pesquisadora associada do Instituto Pró-Carnívoros, você atua além da família Felidae?
Posso responder que não, e justifico com o fato de meu foco ser as relações entre pessoas e onças-pintadas e onças-pardas. Eu não trabalho com biologia nem ecologia das onças ou suas presas. Somos uma equipe e minhas colegas biólogas têm a competência e a responsabilidade para pesquisar e intervir nessa linha. Fazemos um esforço consciente para mantermos a comunicação atualizada quanto aos progressos dos trabalhos desenvolvidos nessas duas linhas: fauna e habitats, pessoas e fauna. Mas posso também responder que sim, que vou além da família Felidae: ao atuar nas relações entre pessoas e fauna silvestre, não estou restrita às onças. Por exemplo, se estiver ocupada com caça de subsistência, provavelmente estou debruçada sobre presas naturais das onças. Se estiver ocupada com situação socioeconômica limite das pessoas, posso deparar-me com captura de aves para comércio ou até para consumo. Se estiver ocupada com sentimentos de medo, posso vir a abordar as relações com serpentes. Se estiver ocupada a uma escala de novos e modernos usos do solo, como instalação de empreendimentos eólicos… todos os grupos e pessoas. Obviamente subordinada ao que é meu tema guarda-chuva: relações humanos-fauna e relações entre pessoas (individuais ou coletivas) e o impacto dessas sobre a fauna.

O que você diria para encorajar os apaixonados pelas onças-pintadas, a trabalhar e colaborar efetivamente na conservação dessa espécie?
Um pouco já fui levantando o véu de forma dispersa nas demais questões, eu acho. Mas, indo à letra na sua questão: paixão é um bom começo. Mas não sustenta um relacionamento (rsrsrs). Tenha paixão pela vida e pela justiça do direito à vida, de todas as suas formas, planta, bicho, gente. Mas empenhe-se por estudar, questionar, viajar, escrever, errar, se humilhar, tentar de novo, acertar, celebrar… e começar novamente o ciclo. Amor sustenta relacionamentos. E amor não é substantivo, é verbo. Dá trabalho. Você decide amar e constrói a cada dia motivado pelo ciclo de exercício-recompensa. Quando vierem os momentos desafiadores, você lembrará da emoção dos momentos marcantes – e o medo e a vontade de desistir darão lugar à coragem e à resiliência para continuar. Não fuja dos momentos difíceis. As frustrações fazem parte do crescimento. Nos preparam para coisas maiores. Buscar só o brilho de trabalhar com uma espécie carismática e recusar os dias difíceis, eu chamaria de oportunismo. Também, pergunte-se porquê quero trabalhar com conservação de onça-pintada (ou qualquer outra espécie, ou qualquer outro trabalho). Um pianista toca para ter fama e fortuna, toca porque é apaixonado por piano… ou toca por seu amor à música, e não desiste enquanto não atinge a perfeição de sua performance? O que pode levar uma vida, não é? Finalmente, não queira trabalhar só. Primeiro, ninguém é tanto que não possa aprender e ninguém é tão pouco que não possa ensinar. Depois, aquela frase atribuída a Clarice Lispector é muito adequada: “Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe.” É escolha pessoal, rápido ou longe? Vai depender de sua mentalidade: finita ou infinita?

Lab • PCR 
A técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (do inglês polymerase chain reaction)  permite que um fragmento específico da molécula de DNA seja amplificado milhares de vezes em apenas algumas horas. Esta técnica foi desenvolvida nos anos 1980 e revolucionou diversas áreas da biologia e da medicina. É utilizada para se obter cópias de uma parte do material genético em quantidade suficiente que permita detectar e analisar a sequência que é alvo do estudo.

As etapas individuais comuns à maioria dos métodos de PCR são as seguintes: Inicialização, desnaturação, anelamento e extensão/alongamento. Para realizar a técnica de PCR, obtém-se uma amostra mínima de DNA de uma célula humana. A amostra de DNA, a enzima que faz a replicação (DNA polimerase), os nucleotídeos de DNA e os primers complementares a sequência de DNA são colocados em um tubo de ensaio. Coloca-se o tubo de ensaio em uma máquina de PCR (máquina que aumenta e diminui a temperatura de acordo com um programa). Os passos seguintes, de aquecimento e resfriamento, acontecem dentro da máquina controlada pelo programa. Aquece-se o tubo a 94ºC para desnaturar (separar a dupla fita) o DNA. Cada fita simples do DNA que foi desnaturada serve de molde para a síntese de novas cadeias complementares. Para isso resfria-se a 54ºC onde os primers se anelam ao início das duas fitas simples, servindo de iniciadores para a enzima polimerase. Aquece-se novamente o tubo a 72ºC (temperatura ideal de funcionamento da DNA polimerase) para a duplicação da fita. A DNA polimerase inicia, após o final do primer, a colocar os nucleotídeos livres na fita de DNA ligando-os por complementaridade, formando assim uma nova fita dupla.



Nossos resíduos • nas trilhas
Trilhar para aprimorar o condicionamento físico, manter a forma, renovar energias, ter contato com a natureza e jogar lixo pelo ambiente. Ops! Esse último ato é um erro recorrente praticado por muitas pessoas em ambientes verdes, onde vivem outras espécies. É de uma falta de educação e de respeito com o coletivo sem tamanho. Há muitas opções a fim de evitar jogar lixo nos lugares. No Instituto há uma iniciativa, ainda a ser mais desenvolvida, que recolhe o lixo encontrado em ambientes naturais, com o objetivo de diminuir os problemas que essas embalagens podem gerar nos espaços. Em média, são recolhidas em torno de 20 embalagens em cada campo, boa parte vinculadas à realização de atividades ao ar livre, como caminhadas, trilhas ou ciclismo. Até mesmo o lixo orgânico não é indicado o descarte em natureza por questões químicas (agrotóxicos presentes) ou pela possibilidade de ser ingerida por animais. Não pratique esse comportamento sujo. Seja uma pessoa realmente saudável. Não jogue lixo nas trilhas. 



Natu 13 • 12/04/2021 • Pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Brenda Menezes; Rodrigo Viana; Fotografias: Daphnne Chelles; Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco (NEMA/UNIVASF); Programa Amigos da Onça; Projeto Pato-mergulhão Chapada dos Veadeiros - Fotógrafo André Dib.

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