Natu 23
Espécie • Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris)
Você sabia que o Brasil abriga mais de 50 espécies de pica-paus? Todas as espécies pertencem à mesma família e possuem o mesmo papel. Essas aves também são conhecidas por ajudar a conservar a saúde das árvores, uma vez que elas se alimentam de insetos e larvas que podem ser, quando em grande quantidade, como pragas para as árvores, assim, ajudam a manter esse equilíbrio. Possuem uma língua longa, cheia de farpas e isso ajuda na captura do alimento. Constroem seus ninhos nos troncos escavados das árvores, são ágeis e fortes, fazem cerca de 22 perfurações nos troncos sem ter prejuízo cerebral algum.
O pica-pau-do-campo, gosta de áreas abertas e campos, também é conhecido como chanchã, pico chanchã e pica-pau-chanchã. Mede cerca de 32 cm, e assim como o tamanduá-bandeira, se alimenta principalmente de cupins e formigas. Sua plumagem conta com uma mancha de amarelo forte nos lados da cabeça que passa pelo pescoço e vai até o peito e o restante é barrado (amarronzado) e com cores branca e preta. O macho possui duas faixas avermelhadas nos dois lados da cabeça. A secreção da glândula mandibular é semelhante a uma cola, isso ajuda na captura do alimento. A inteligência na fabricação de seus ninhos é fantástica. A face do ‘buraco’ do ninho é um pouco voltada para o solo, isso protege da chuva e sol em excesso, assim como, a proteção contra predadores e/ou outras aves. A cavidade é do tamanho do corpo da ave. Põe até 5 ovos que são chocados pela fêmea e pelo macho, os filhotes nascem cegos e sem plumagem. Sua distribuição geográfica na América do Sul abrange a Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Suriname.
Seu estado de conservação, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), é de “pouco preocupante”. Essa espécie possui duas subespécies: Colaptes campestris campestris (Vieillot, 1818) e Colaptes campestris campestroides (Malherbe, 1849). O desmatamento das florestas, bem como, de áreas remanescentes é a maior ameaça para esses animais, visto que eles constroem seus ninhos nas árvores.
Na trilha • Férias e uma retrô de cuidados nas trilhas
Estar na natureza é sempre uma oportunidade sem igual e são inúmeros os benefícios que o meio ambiente pode nos proporcionar, no entanto, é necessário ter cuidado redobrado para não haver nenhum tipo de acidente ou incidente nas trilhas.
Estar atento ao clima é muito importante, principalmente, em época de chuva. Chuvas acompanhadas de raios são muito perigosas. Por mais que as chances de um raio atingir uma pessoa seja por cerca de 1 para 1 milhão, ainda pode acontecer. Entretanto, especialistas dizem que a maioria das mortes ou ferimentos causados por esse tipo de acidente, resultam de incidências indiretas. As correntes elétricas podem causar queimaduras, danos ao coração, pulmões, outras partes do corpo humano e até óbito.
Já os possíveis acidentes com as águas, temos as cabeças d'água e tromba d'água que podem acontecer em rios, mares, lagos e serem fatais. A cabeça d'água acontece quando um grande volume de chuva cai na parte superior do curso d'água. Com isso, há um aumento rápido do nível do rio. Já a tromba d'água é uma nuvem em formato de funil que se forma sobre o rio, mar ou lago que se prolonga até atingir a água. Recomenda-se, a saída imediata da água se ouvir barulho forte ou se sentir a correnteza aumentar de forma repentina.
Sobre a localização para não se perder, existem aplicativos com ferramentas que servem para nos nortear na natureza: mapas, trilhas, pontos geográficos, bússolas, informações sobre o clima, relevo, etc. Tudo que precisamos saber, direto na tela do smartphone ou tablet para um trabalho ou passeio seguro no campo. Exemplos: Avenza Maps, Wikiloc, AccuWeather para o clima, entre outros.
E se você não conhece a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade ou simplesmente Rede de Trilhas, é bom procurar saber. O Manual é responsável pela identificação visual que deve ser observada em todas as trilhas. Há cerca de quinze tipos de sinalização em trilhas, dentre elas a sinalização de entrada de trilha que devem ser bilíngues (português e inglês) e conter informações gerais do percurso como: duração, distância, nível de exigência física, atrativos ao longo do percurso, informações de segurança, uma lista de contatos (administração da unidade, bombeiro, polícia, SAMU, etc.). Há também a sinalização educativa/regulatória que serve para estimular um determinado comportamento ao visitante. Entre outros, para saber mais acesse: manual de sinalização.
É comum as pessoas encontrarem animais nas trilhas e querer pegar nas mãos, principalmente, para fotografar. Essa prática é expressamente desaconselhável. Tire fotografias à vontade, mas respeite o limite de segurança, entre você e os animais. Primeiro, existe um grande risco de transmitir vírus, parasitas, fungos, protozoários ou bactérias que são nocivas aos humanos ou que podem ser fatais para os animais. Além disso, alguns agentes etiológicos de zoonoses podem estar presentes no animal, sendo assim, há chances de sermos veículos de doenças com significativo impacto na saúde pública. Segundo, estressar o animal desnecessariamente e causar reações adversas. Alguns animais possuem mecanismos de defesa contra o predador que são verdadeiras obras da natureza. Por exemplo: a autotomia que consiste na amputação espontânea ou auto mutilação de membros do corpo de alguns animais como aranhas, lagartos e salamandras. Eles fazem isso de forma involuntária, a fim de evitar o ato de predação. Esses membros voltam a crescer com o tempo, mas é notável que não vale a pena fazer o animal passar por esse estresse e gastar energia à toa para repor algo depois, só pela curiosidade de pegá-los nas mãos.
Siga as instruções e as pegadas e boa trilha!
Entrevista • Uma valiosa iniciativa de Conservação por Shery Duque Pinheiro
Graduada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário de Barra Mansa (2002), especialista em Morfofisiologia Animal pela Universidade Federal de Lavras (2006), Mestre em Biologia e Comportamento Animal pela Universidade Federal de Juiz de Fora - MG (2008). Desde agosto de 2015 atua como consultora da Revista Científica do UBM. Linha de pesquisa em Biologia comportamental e lateralidade de Xenarthras, com ênfase no comportamento de preguiças. Escritora de livros infantis com foco na área de zoologia e educação ambiental. Sócia fundadora e atual presidente da Associação Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça.
Quando começou a se interessar por biologia?
No Ensino Médio eu fui estudar em um Colégio Agrícola federal, hoje um IFES, o curso me influenciou muito nesse sentido. Isso porque até o fim do Ensino Básico minha ideia era cursar Jornalismo ou Comunicação.
Durante a graduação, quais estágios realizou? Os estágios te ajudaram a discernir sua área de atuação atual?
Durante a graduação eu fiz estágio em algumas escolas municipais e particulares, em um laboratório de Análises Clínicas e participei de projetos de extensão na área de zoologia da faculdade que eu estudava. Os estágios foram importantíssimos para trazer um senso de realidade sobre o papel dos biólogos em diferentes áreas, e para que eu compreendesse com qual delas eu me afinava mais. Ficou muito claro que eu queria ser professora e trabalhar com pesquisa em zoologia, e eu direcionei meus estudos de pós-graduação para essas áreas.
O que te incentivou a estudar sobre comportamento animal no Mestrado?
Eu sempre fui apaixonada por comportamento animal, desde o ensino fundamental meus programas favoritos de TV eram os documentários sobre vida animal silvestre. No curso de Biologia, logo nos primeiros períodos eu iniciei minha pesquisa de TCC e mergulhei fundo nos estudos para entender melhor os fundamentos de etologia, mas na faculdade não havia essa disciplina e tampouco curso de pós-graduação em nível lato sensu. Decidi que iria fazer o mestrado nessa área e encontrei o curso de Biologia e Comportamento Animal da Universidade Federal de Juiz de Fora, assim iniciei todo o processo de seleção e finalmente ingressei.
Por qual motivo escolheu trabalhar com o bicho-preguiça?
No Brasil, infelizmente há preguiças vivendo em áreas urbanizadas como praças e parques. Encontrei essa situação na cidade onde eu trabalhava e estudava durante a graduação. Eu nunca havia visto uma preguiça até o dia em que passei pelo parque e me fiz muitas perguntas sobre a situação dos animais ali. Quando percebi que eles estavam totalmente negligenciados pelos gestores municipais eu percebi a importância de realizar a pesquisa e assim tudo começou e expandiu.
Conte-nos sobre alguns desafios enfrentados no Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça.
Um dos principais desafios está relacionado com a captação dos recursos que precisamos para desenvolver o trabalho, comprar equipamentos, oferecer mais apoio aos nossos voluntários, etc.
A Associação recebe algum tipo de financiamento? Como as pessoas interessadas podem ajudar?
Não. Não temos nenhum tipo de financiamento. Nossos recursos vêm da venda dos livros infantis e da colaboração de nossos associados, voluntários, da venda de itens exclusivos e mais recentemente dos cursos virtuais que estamos oferecendo.
Você possui muitos alunos que apoiam a causa?
Sim. Os alunos voluntários são importantíssimos para conseguirmos realizar o trabalho. Muitos após cumprirem o estágio, acabam permanecendo como voluntários por amor à causa e aos animais.
De onde vem o gosto pela escrita de livros infantis?
Ao longo de toda a minha formação acadêmica e depois trabalhando como professora universitária eu sempre precisei escrever muito, produzir relatórios, cursos, artigos, no entanto era uma escrita com uma linguagem complexa e voltada para uma comunidade muito específica. Em 2014 eu tive a oportunidade de escrever um artigo de divulgação científica para a Revista Ciência Hoje das crianças e alguns meses depois eu publiquei meu primeiro livro infantil sobre preguiças. Inicialmente o livro foi escrito
com a finalidade de servir como instrumento de educação ambiental cuja venda seria revertida para os projetos da nossa associação (PEMCBP). Eu mergulhei na literatura infantil, no trabalho de editoração para produzir de forma totalmente independente e fiquei fascinada por esse universo. Eu sinto um prazer enorme em escrever as histórias, pensar nas ilustrações, e fazer o trabalho de edição também. É tudo muito natural e me traz satisfação unir meu conhecimento acadêmico sobre os animais ao lúdico em si.
Nesse caminho, estudando e pesquisando pude perceber que há uma lacuna de representação da fauna brasileira na literatura infantil, especialmente quando falamos de livros que trazem temáticas ambientais e o animal por ele mesmo. A maioria constituem-se de fábulas, sem compromisso com a conscientização, apenas antropomorfizando os animais e em nada contribuindo para a construção de uma ligação mais profunda com a natureza. Acredito que nós cientistas que temos afinidade pela divulgação científica e amamos a arte, temos o dever de mudar esse olhar. Ninguém pode preservar o que não conhece e não reconhece como seu, a criança brasileira precisa não apenas saber o que é uma preguiça-de-coleira, mas sentir sua magnificência, sentir que é nossa, que só existe aqui e que se não cuidarmos, ela irá desaparecer!
Conte-nos sobre a experiência de ser membro de corpo editorial do Periódico: Ciência Animal Brasileira.
Durante o período em que trabalhei como professora do centro universitário de Barra Mansa, eu integrei o Comitê de Ética em pesquisa e experimentação animal, tive oportunidade de contribuir como revisora ad hoc da Revista Científica do UBM. Mesmo não estando mais vinculada ao centro universitário, em função da longa experiência com as preguiças, fui convidada pela revista Ciência Animal Brasileira para revisar artigos que foram submetidos envolvendo esses animais. É relativamente comum que as revistas necessitem e convidem especialistas para contribuírem quando o assunto ou grupo animal em questão é muito específico. É sempre uma honra e um prazer contribuir para a difusão da ciência e do conhecimento sobre as preguiças em todos os meios e linguagens possíveis. Eu costumo dizer em todas as oportunidades que tenho, sejam palestras, entrevistas, feiras de livros ou cursos: Poder falar sobre o aquilo que amamos é sempre um prazer e um privilégio. Eu amo as preguiças e quero seguir trabalhando para sua conservação enquanto eu viver!
Lab • Alporquia
A alporquia é uma técnica de multiplicação vegetativa, ou seja, propagar espécies vegetais sem a troca de material genético, sem o nascimento da planta pela semente. Essa técnica é amplamente utilizada em espécies ornamentais, frutíferas, árvores nativas e espécies que o desenvolvimento é demorado, até que atinja sua fase reprodutiva.
Esse processo consiste em fazer o enraizamento de um galho, ainda estando na planta-matriz. Você vai precisar fazer o anelamento de um galho que tenha acima de 2 centímetros, após essa raspagem você irá fazer um curativo envolvendo-o com musgo, em geral, é utilizado o Sphagnum sp., e cobrir com um plástico com pequenos furos para que seja possível manter úmido, para fechar o saquinho utilize barbante ou fita.
Em algumas semanas, dependendo da espécie, é possível notar o aparecimento de raízes no galho. Nesse momento, é a hora de fazer a retirada do galho e transplantar para um vaso ou para área que pretende cultivá-la.
Nossos resíduos • Utilização de vidro na construção de casas
Pode parecer que não existe essa possibilidade, no entanto, é possível construir uma casa utilizando garrafas de vidro que já foram jogadas no lixo ー no caso, jogadas na natureza.
Uma família fez a limpeza dos mangues e praias da Ilha de Itamaracá em Pernambuco, recolhendo cerca de 5 mil garrafas de vidro, que ficariam na natureza por centenas de anos. O resultado dessa boa ação pela natureza, foi a utilização das garrafas como matéria-prima para a realização de um sonho: a construção de uma casa. A mãe relatou que o lixo nas praias sempre a incomodou e então, juntaram a necessidade de construir um lar com a necessidade de limpeza da área. Após o recolhimento da matéria-prima, a família limpava o material, a fim de certificar que nenhum resíduo pudesse ser prejudicial à construção; então faziam blocos (semelhantes a tijolos) com oito garrafas e preenchiam os espaços com argamassa; depois desse processo faziam a montagem das paredes e assim por diante. Tudo que foi realizado foi testado pela família, sem intervenção de arquitetos, engenheiros ou pedreiros.
A filha deixou uma mensagem importante do que essa casa representa: “o propósito de transformação social que vem para dialogar com a sociedade formas de ressignificar, solucionar e debater toda nossa lógica de descarte“.
Natu 23 • 12/02/2022 • Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris) • Redação • Direção: Nathália Araújo; Conteúdo: Amanda Costa; Rodrigo Viana; Fotografias: Programa de Estudo, Manejo e Conservação do Bicho-preguiça; Vinícius Coelho.
Comentários