Tamanduá-bandeira, natureza e biodiversidade!

Extinção: como isso acontece

Rodrigo 

Com frequência as pessoas mencionam “animais ameaçados de extinção”, “espécies na lista vermelha de extinção”, “risco de extinção” e também falam sobre os problemas que a extinção podem proporcionar, principalmente quando estão associadas a atividades de degradação ambiental em decorrência de atividades humanas. Então como essas atividades podem alterar tanto o meio ambiente e gerar a extinção de espécies?

Estamos no antropoceno. Esse é o termo usado para identificar a época cuja presença humana é importante nas transformações da Terra. Essa era está caracterizada por muitas alterações, como diminuição ou remoção total da cobertura vegetal nativa, aumento da pavimentação e impermeabilização dos solos, grande geração de resíduos, uso intenso de produtos químicos, como os agrotóxicos e a emissão de gases na atmosfera, tudo isso apenas a título de exemplo. Essa combinação de alterações somada ao longo dos séculos recentes, vem acompanhada de um expressivo desaparecimento de seres vivos, por falta de local para viver e aumento de ameaças como atropelamentos, queimadas, caça, dentre outras realidades. Ao falar de eras e extinções, estudos apontam para grandes extinções em massa, sendo cinco em épocas mais remotas e a sexta que estamos vivendo. O gráfico a seguir indica intervalos entre as grandes extinções, com oscilações, sendo que atualmente há muitas atividades que afetam a existência das espécies. Então existe uma reunião de acontecimentos num cenário favorável para mais uma grande extinção e que nós sabemos.

As 'Cinco Grandes' extinções em massa na história da Terra: 1. Final do Ordoviciano (há 444 milhões de anos); 2. Final do Devoniano (há 360 milhões de anos); 3. Final do Permiano (há 250 milhões de anos); 4. Final do Triássico (há 200 milhões de anos); 5. Final do Cretáceo (há 65 milhões de anos) - a extinção que matou os dinossauros.

Numero de espécies que foram extintas desde o ano de 1500 distribuídas em grupos, pela ordem das mais extintas: moluscos, aves, plantas, mamíferos, peixes, insetos, anfíbios, répteis, crustáceos e aracnídeos. 

O que é espécie?
Para entender melhor, vale rever mais sobre espécies. O conceito de espécie pode ter muitas ressalvas, dadas as tantas possibilidades de seres vivos que existem. Assim, para facilitar o entendimento e abordar de forma mais apropriada, vamos considerar um mamífero. Uma espécie de mamífero é a unidade básica de identificação zoológica, para um animal que possui características marcantes como as mamas, vive em um mesmo período de tempo, em um mesmo espaço geográfico compartilhado com outros seres semelhantes, o que forma uma população, na qual esses indivíduos cruzam e se reproduzem, geram descendentes férteis, igualmente semelhantes. Por exemplo, tamanduás-bandeira que viveram e vivem nos tempos recentes na natureza brasileira, com reprodução e a continuação das características típicas que eles têm, formam uma espécie, conhecida cientificamente como Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758). Essa espécie integra um grupo que reúne tatus e preguiças, a Ordem Xenarthra. Então as espécies são organizadas em grupos semelhantes e esses são organizados em grupos maiores em diversidade, como o grupo dos mamíferos. 

Tamanduá-bandeira na natureza - a espécie continua nas listas vermelhas de extinção.

E extinção de espécie?
É um processo que acontece ao longo do tempo, no qual uma determinada população de seres vivos da mesma espécie desaparece, o que pode acontecer naturalmente. Ou seja, no decorrer da história da vida, algumas espécies realmente deixam de existir, em razão de mudanças acontecidas, de forma súbita ou gradual. Um exemplo mais fácil para entender, pode ser de espécies que têm localização limitada a uma região de um bioma. Uma mudança na natureza com grandes proporções pode alterar toda essa região e inviabilizar a ocorrência de tal espécie que tenha distribuição muito localizada. Outra situação seria algum problema na população, a exemplo de uma doença de alta transmissão, que pode matar e comprometer muitos indivíduos à extinção, como uma misteriosa doença neurológica que atingiu felinos silvestres na Flórida. Acontece que possibilidades têm se multiplicado por toda parte e com muitas espécies ao mesmo tempo. No Brasil essas ameaças têm sido reais para micos-leões, espécies emblemáticas. Esses simpáticos primatas, identificados atualmente em quatro espécies, dentre elas o icônico mico-leão-dourado, merecem muita atenção para que as populações continuem com diversidade genética e protegidas. Um exemplo de esforço é uma campanha de vacinação para proteção dos micos contra febre amarela. Outro grande empenho está num projeto executado para viabilizar um viaduto vegetado, no estado do Rio de Janeiro, acompanhado pela Associação Mico-Leão-Dourado. Esse viaduto tem o intuito de conectar remanescentes de Mata Atlântica, um bioma nacional que perdeu cobertura a níveis muito baixos, atualmente em torno de 12,4% da vegetação original. Assim os micos podem ter essa alternativa somada a cuidados para continuação de interações da espécie, como a reprodução saudável e novas gerações de micos. Caso o desmatamento nessa região aumente, as áreas restantes venham a ser destruídas ou comprometidas, pode aumentar a ameaça a essa espécie de mico-leão. Essa situação é parecida para os primos micos em outras regiões do bioma. Por isso a importância de reflorestar, cuidar de remanescentes de vegetação nativa e acompanhar a existência da vida silvestre. De acordo com os dados analisados, as plantas formam o grupo com mais espécies ameaçadas, assim como um dos grupos que teve espécies declaradas extintas entre 1500 e 2020. Isso pode ser explicado pela diminuição da cobertura vegetal, com o desmatamento de árvores, plantas arbustivas, herbáceas e perda de algas.

Número de espécies ameaçadas de extinção em 2021, no gráfico liderado por plantas, peixes e anfíbios. A ordem das mais extintas do gráfico: plantas, peixes, anfíbios, répteis, moluscos, insetos, aves, mamíferos, crustáceos e aracnídeos. A Lista Vermelha da IUCN avaliou apenas uma pequena parte do total de espécies conhecidas no mundo. Isso significa que o número de espécies ameaçadas de extinção provavelmente está subestimado significativamente do número total de espécies em risco.

A existência de espécies e as listas
Ao acompanhar os assuntos sobre natureza, vida silvestre, espécies, a extinção é mesmo um tema muito frequente. Essa informação pode ser trabalhada por escalas a nível local (menos comum), regional, nacional e mundial para grupos variados, de insetos a pássaros, de árvores a tamanduás. Pelos motivos descritos lá no início, a ameaça de extinção se apresenta cada vez maior atualmente e as listas vermelhas podem ajudar a balizar prioridades e direcionar esforços para espécies em categorias mais críticas. A propósito, foi publicada a atualização da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção esse mês, desde a última atualização em 2014. A atual lista vermelha traz milhares de espécies nativas do Brasil em alguma categoria de ameaça - Vulnerável, Em Perigo ou Criticamente em Perigo, por exemplo.

Recentemente algumas espécies foram declaradas extintas, como o pica-pau que inspirou desenho animado na década de 40 e a onça-pintada nos Estados Unidos da América. No Brasil os indicadores utilizados determinam status de avaliação diferentes para as onças-pintadas, de acordo com região ou bioma de ocorrência. Na Caatinga esse felino está criticamente ameaçada de extinção. Por outro lado, espécies foram observadas em natureza após décadas sem registro, a exemplo da cobra rara encontrada no Alabama pela segunda vez em 60 anos, do pássaro considerado extinto e encontrado em Bornéu após 170 anos, da suçuarana ou onça-parda vista em área onde era considerada extinta na região Metropolitana do Rio de Janeiro há mais de um século, da flor desaparecida há quase 40 anos e reencontrada em Parque Estadual também no RJ, estado brasileiro onde predomina o bioma da Mata Atlântica, já mencionado um pouco antes pela perda da cobertura, e tantos outros espécies extintas na natureza e recuperadas graças à ciência. Seja por reintrodução na natureza ou por esforços para mais conhecimento em campo, algumas espécies podem vir a ser registradas na natureza, mesmo após serem declaradas como extintas ou possivelmente extintas.

Assim, tão importante quanto as listas são os estudos regulares em campo para identificar a ocorrência das espécies. Isso porque o registro de uma espécie em um local pode ou não ocorrer, mesmo com todos os esforços em campo - o fato de não ser detectada, não quer dizer que a espécie realmente tenha desaparecido por completo numa região estudada. Ao passo que detectar a ocorrência, abre oportunidades para mais conhecimento a esse respeito. 

Mesmo que o processo de extinção aconteça naturalmente, um grande número de extinção de espécies ou a possibilidade de desaparecimento de tantas, causado por destruição e descuido, gera incerteza para a nossa continuidade. As pessoas precisam da natureza, com as espécies que dão vida a ambientes, seja no fluxo de nutrientes, na polinização ou no controle das cadeias alimentares. Conhecer as áreas silvestres e as espécies que habitam, diminuir o processo de devastação artificial nessa era e conseguir meios melhores de sobrevivência com outros seres vivos são as melhores alternativas que temos.

 LEIA MAIS  Visite os sites citados ao longo do texto, com destaque para os sites a seguir:
- Associação Mico-Leão-Dourado - Conectividade
- Our World in Data - Biodiversidade - Biodiversity
- Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (2022) - Portaria MMA Nº 148, de 7 de junho de 2022
- A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN - Red List www.iucnredlist.org

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Projeto Vida de Tamanduá (Myrmecophaga tridactyla).