Tamanduá-bandeira, natureza e biodiversidade!

Natu 32

Espécie • Pau-santo (Kielmeyera coriacea) 
Uma planta muito frequente no Cerrado, em áreas de formação mais savânica, o Pau-santo uma é uma espécie arbustiva, que pode alcançar um porte arbóreo de menor porte. Tem caule tortuoso, com uma casca cinzenta muito evidente e por vezes com sinais da passagem do fogo. Tem folhas grandes, com nervuras bem definidas, sendo as duas folhas mais novas em tons mais avermelhados, mas que passam a ter tons verdes quando bem desenvolvidas. Tem flores brancas com centro roseado e pistilos amarelos. Os frutos são secos, que se abrem quando maduros para liberar as sementes. Tem uso medicinal, sendo indicado para tratamento de algumas enfermidades.  Ela é considerada caducifólia, ou seja, perde as folhas em determinada época do ano. 


Na trilha • A importância de treinamentos para atividades em natureza
O contato com a natureza é incentivado ao longo dessa coluna, pelos benefícios e importância proporcionados pelos ambientes naturais. Tão importante quanto praticar atividade física ou fazer trilhas é ter conhecimentos básicos aplicados a esse tipo de atividade. Nesse sentido, guias com treinamento recebem e compartilham instruções, tem atualizações constantes, sabem orientar bem as pessoas menos experientes, além de proporcionar momentos diferenciados ao longo de um trajeto, a exemplo de pontos especiais da trilha, muitas vezes despercebidos pelas pessoas. 

Para saber que estará em sua companhia nessas atividades procure informações como:
• Carteirinha de guia emitida por instituições reconhecidas
• Certificações atualizadas e histórico de treinamentos já realizados
Currículo de trilhas já realizadas e número de km já percorridos 
• Formação em área relacionada à natureza, é um importante diferencial.

Por isso, busque treinamentos ou faça trilhas com alguém treinado e tenha uma boa trilha!

Entrevista • Ecossistemas, interações e natureza por Lucas Paolucci 
Formado em Ciências Biológicas, Mestre em Entomologia e Doutor em Ecologia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com período sanduíche no Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO) - Tropical Ecosystems Research Centre, Austrália. Foi pesquisador em nível de pós-doutorado durante dois anos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e durante um ano do PPG-Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Atualmente está como professor adjunto do setor de Ecologia, Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa, e orienta nos níveis de mestrado e doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFV. Com a linha de pesquisa que atua, busca entender como distúrbios antrópicos impactam comunidades biológicas, suas interações, serviços e funções ecossistêmicos que elas desempenham, usando principalmente experimentos manipulativos em campo. Atua principalmente com os seguintes temas: biodiversidade; ecologia do distúrbio; ecologia de comunidades e ecossistemas; funcionamento dos ecossistemas; interações animal-planta. www.ecotrop.ufv.br

Ciências Biológicas sempre foi sua primeira escolha de curso?
Sim. Eu sempre me interessei pela natureza, as curiosidades sobre a fauna, e a beleza da flora. Mas como sempre morei na cidade e frequentava ambientes naturais muito pouco, o que despertou essa curiosidade e o interesse pelas Ciências Biológicas em um primeiro momento foram programas de televisão sobre a natureza. Por isso julgo ser tão importante a disseminação de informações para um público amplo.
 
Sobre as formigas de serrapilheira, elas são afetadas por uma fragmentação em pequena escala?
Nós estudamos as formigas como organismos-modelo para entender os impactos de distúrbios sobre a biodiversidade de maneira geral. Isso porque as formigas são extremamente diversas e abundantes, desempenham funções-chave na natureza, e as respostas delas a distúrbios indicam que algo parecido pode ocorrer também com outros grupos da fauna. Por exemplo, um dos nossos estudos constituiu uma fragmentação de hábitat em pequena escala no interior de um fragmento de floresta, mas especificamente na serapilheira (folhiço do chão da floresta), que é o hábitat de várias espécies de formigas. Nosso objetivo era entender como a distância de fragmentos de hábitat, bem como a ligação entre eles por corredores ecológicos, afetaria a diversidade de formigas. Nós descobrimos que a fragmentação diminuiu o número de espécies de formigas, principalmente devido a uma baixa chegada de novas espécies nos fragmentos isolados. Além disso, descobrimos que corredores ecológicos facilitam não apenas a chegada de espécies nos fragmentos (ajudando assim as populações isoladas), mas também a saída de algumas delas. Isto pode ser importante porque alguns fragmentos de hábitat podem não ter condições e recursos adequados para suportar populações com tamanhos viáveis, de modo que uma rota de fuga para hábitats mais adequados pode ser tão importante quanto uma rota para a chegada de novos indivíduos.
 

Fale-nos um pouco sobre seu atual projeto: Impactos do fogo sobre a diversidade funcional de formigas da bacia Amazônica.
Durante o meu doutorado investiguei como o fogo na Amazônia impacta a comunidade de formigas da floresta. O fogo não é um distúrbio natural em florestas tropicais, e quando ocorre tende a prejudicar a biodiversidade. Nós descobrimos que o fogo recorrente causa a extinção local de algumas espécies de formigas que são especialistas de hábitats florestais, e ao mesmo tempo causa uma invasão de espécies típicas de áreas abertas. Desta forma, descobrimos que o fogo não apenas causa uma conversão da floresta para um hábitat mais aberto e mais degradado, mas também uma conversão da fauna associada a esta floresta, como indicado pelas formigas. Conforme mencionado anteriormente, as formigas indicam que provavelmente isto ocorre também para outros grupos da fauna. Neste projeto atual mencionado na pergunta, queremos entender porque o fogo desencadeou esta mudança nas comunidades de formigas. Nossa hipótese é que alguns atributos morfológicos específicos favorecem estas novas espécies a ocorrerem nas florestas degradadas, o que então causaria uma mudança na diversidade funcional das formigas. Esta pesquisa é importante porque irá nos ajudar a entender os motivos pelos quais o fogo na Amazônia e em outras florestas tropicais causa mudanças na fauna destas florestas.
 
A docência e a pesquisa são difíceis de separar? 
Vejo estas atividades como complementares. Por exemplo, na graduação em Ciências Biológicas da UFV eu ministro as disciplinas "Biodiversidade" e "Práticas em Ecologia", nas quais sempre vemos muitos temas com os quais eu desenvolvo minhas pesquisas, como por exemplo quando falo sobre as contribuições da fauna na recuperação de florestas degradadas. Estas contribuições são conhecidas como serviços ecossistêmicos, e um dos exemplos que utilizo vem de um trabalho desenvolvido durante o meu pós-doutorado no IPAM. Nós descobrimos que as antas, que são os maiores herbívoros nativos das nossas florestas, defecam muito mais frequentemente em florestas degradadas pelo fogo do que em florestas preservadas. Com isso, elas acabam dispersando cerca de três vezes mais sementes nestes locais, o que provavelmente contribui para o recrutamento de novas plantas e consequentemente para a recuperação da floresta. Assim, vejo que associar a teoria à prática facilita o entendimento e instiga o interesse dos estudantes. 
 

Compartilhe sobre um momento especial do doutorado sanduíche na Austrália.
A experiência no exterior para desenvolver parte do meu doutorado foi muito importante para o meu crescimento profissional, já que tive contato com um ambiente diferente de pesquisa, e profissionais com experiências diferentes que complementaram a minha formação. Um dos trabalhos que desenvolvi lá foi na região do Kimberley, no noroeste da Austrália. Nós fomos em uma equipe para uma região remota que só se chegava de helicóptero. Nós acampamos neste local e fizemos coletas de diversos grupos, como pequenos mamíferos, plantas e formigas. O trabalho não era fácil porque precisávamos acordar muito cedo, era muito quente, a comida era uma ração industrializada, o banho era em rios e obviamente não havia banheiro. Mas tudo isso era compensado pela beleza do local, o céu mais estrelado que já vi na vida, os papos à noite em volta da fogueira e por quando eu estava sozinho fazendo um trabalho de campo e vi um canguru enorme passando bem do meu lado! 
 
Conte-nos um pouco sobre a experiência no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Durante o meu doutorado tive a oportunidade de trabalhar em parceria com o IPAM, mais precisamente no Mato Grosso, em uma floresta Amazônica de transição com o Cerrado. Neste local está atualmente um grande projeto financiado pelo CNPq (projeto PELD-TANG) que, juntamente com outras iniciativas e agências financiadoras, ajudam a manter as pesquisas em andamento. Neste local eu fiz todas as coletas do doutorado, e logo depois consegui uma bolsa de pós-doutorado para continuar trabalhando em parceria com o IPAM, onde colaboro até hoje de maneira muito próxima. O ambiente de trabalho nestes experimentos não poderia ser melhor, pois conta com uma equipe muito séria, comprometida e capacitada. Esta equipe auxilia cientistas de várias instituições do Brasil e do mundo para desenvolver pesquisas que buscam entender como as mudanças no uso da terra e outras ações humanas afetam a biodiversidade, o ciclo do carbono, a saúde dos riachos e a própria produção de alimento.
 
O quão essa experiência no IPAM teve de impacto positivo na sua carreira?
Essa experiência foi (e tem sido) decisiva para a minha carreira. Como eu me formei, fiz mestrado e doutorado na mesma instituição (UFV), ter saído (primeiro para o doutorado sanduíche na Austrália) e depois para o IPAM me proporcionou uma visão e experiência muito mais amplos. Apesar dos recentes avanços, na universidade ainda temos uma formação muito acadêmica, cuja pesquisa muitas vezes ainda não dialoga com a sociedade. Sendo uma instituição do terceiro setor, o IPAM me possibilitou este diálogo, incluindo divulgações amplas de várias pesquisas que estive envolvido. Por exemplo, graças a esta parceria uma das nossas pesquisas recebeu ampla divulgação das mídias nacionais e internacionais, chegando a até mesmo ser divulgada pelo ator e ativista Leonardo DiCaprio. Além disso, esta parceria ainda tem muitos impactos positivos na minha carreira, uma vez que continuo atuando em projetos em parceria com o IPAM. Atualmente tenho dois estudantes de doutorado trabalhando no projeto PELD-TANG do IPAM e estou desenvolvendo diversos estudos com base de dados coletados por nós nese projeto.
 
Um conselho para os alunos desmotivados, que buscam se formar e realizar nas pós-graduações Stricto sensu. 
Eu acho fascinante estudar a natureza, as interações ecológicas que nela ocorrem, e entender como os distúrbios causados por nós seres humanos podem alterá-la, principalmente para propor ações embasadas na ciência que diminuam esses impactos. Esse fascínio é o que me motiva a continuar fazendo pesquisa, apesar do baixíssimo incentivo à ciência nos últimos anos. Dessa forma, eu diria que se alguém está desmotivado por conta dessas dificuldades, mas tem esse fascínio pelo conhecimento, pela ciência, e principalmente motivação para mudar as coisas para melhor, que deveria insistir porque vale a pena, e porque precisamos de mais pessoas comprometidas e interessadas. Eu diria também que, principalmente para uma pós-graduação, é essencial buscar um grupo que tenha como foco de pesquisa a sua área de interesse e, principalmente, que seja acolhedor e que dê todo apoio e as condições para desenvolver a pesquisa na área de interesse!
É Natural • Os répteis trocam de pele?
É importante enfatizar que os répteis que passam por esse processo são os “répteis squamatas”. Então sim, os répteis que possuem escamas sofrem ecdise e isso acontece pois, na história evolutiva quando esses animais se tornaram independentes da água, ocorreu um processo de queratinização do tegumento em suas peles, facilitando a ecdise. A responsável principal pela ecdise dos squamatas é a glândula tireóide e, por sua vez, este é um  momento muito importante em suas vidas, já que auxilia no seu crescimento e na renovação dos seus tecidos. 

Podem existir dois tipos de trocas de pele nos répteis escamados, as serpentes fazem a ecdise “inteira”, ou seja, a pele antiga sai de uma vez só. Já nos lagartos, a pele vai se desprendendo em pedaços irregulares e isso pode ser até um facilitador de predação desses animais. 

Em casos onde a muda destes animais acontece de forma “imperfeita” ou “irregular”, pode indicar que algo está errado com o animal, por isso em serpentários em zoológicos, por exemplo, o momento de ecdise das serpentes é extremamente importante e deve ser observado com muita cautela.

Natu 32 • 15/11/2022 • Pau-santo (Kielmeyera coriacea) • Redação • Direção: Rodrigo Viana; Conteúdo: Henrique Alexandre; Livia Malatrasi, Rebeka Câmara; Fotografias: Lucas Paolucci (Arquivo pessoal).

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