Tamanduá-bandeira, natureza e biodiversidade!

Natu 35

Espécie • Perereca-bruxa (Phyllodytes luteolus)
A perereca-bruxa faz parte do gênero Phyllodytes, um grupo zoológico endêmico do Brasil, concentrado no bioma Mata Atlântica. Ela costuma ser encontrada naturalmente desde a Paraíba até o estado do Rio de Janeiro, com registros em Minas Gerais. As espécies desse gênero da Zoologia são associadas a bromélias. Nessas plantas acontecem toda a vida desses animais, até mesmo a fase aquática, quando são girinos. Isso é possível pelo acúmulo de água na cavidade central das bromélias, onde se formam pequenos tanques. Nessas áreas úmidas as pererecas-bruxa conseguem viver todos os ciclos de vida. Elas são muito pequenas, com pesos de poucos gramas. Tem tons esverdeados e detalhes em tons marrons mais claros a dourados. O nome da perereca-bruxa vem da “risada” que ela tem. Isso porque ao vocalizar, o canto ou coaxo, lembra muito a risada de uma bruxa, daquelas de contos e histórias infantis. Essa espécie é considerada menos preocupante na Lista Vermelha de ameaça de extinção. Nota: a fotografia da capa tem macho, fêmea e girino de perereca-bruxa (Alan Araujo).

 




Na trilha • Usar calçados apropriados
Realizar trilhas é uma atividade junto à natureza que pode proporcionar momentos muito bons. Além de explorar os sentidos, é uma maneira de quebrar a rotina dos centros urbanos. Dessa forma é uma excelente maneira de se conectar com a natureza. Para viver essa atividade do melhor jeito é muito indicado se proteger, a começar pelos pés. Essa região tem um contato constante com a natureza nesse tipo de atividade. Além de insetos e outros artrópodes, que são números e estão por toda parte, tem outros animais como as serpentes. Um calçado confortável, bem fechado e de material resistente, vai permitir um boa experiência, proteger mais e diminuir a possibilidade de ocorrências. Numa escala de uso vamos começar com o contato mais direto, os pés descalços: esse é contraindicado! Apesar do bem-estar que pode causar, esse é o mais arriscado. Usar chinelos: também não é indicado. Mesmo que possa proteger a sola do pé, o chinelo deixará exposta uma grande parte do seu pé a insetos e outros animais. Ir de tênis: não é indicado. Principalmente os modelos que permitem ventilação, podem proteger de insetos mas tem baixa proteção contra serpentes. Botinas de cano longo: o mais indicado. Esse tipo de calçado tem material acolchoado que permite conforto e uma maior proteção com composição mais resistente. Além desse de calçados do tipo botina é muito indicado o uso de perneiras ou material para proteger canelas, assim você aumentará a sua segurança. Além de um bom calçado, ter atenção onde pisa pode evitar perdas e danos. Tenha atenção ao percurso e boa trilha!
Entrevista • Medicina veterinária e animais selvagens por Elisângela Sobreira
Ela é Pós-Doutora no Programa de Epidemiologia Experimental Aplicada à Zoonoses na USP. Especialista em Radiodiagnóstico por Imagem Convencional pela FAMESP. Primeira Doutora em Animais Selvagens na UNESP de Botucatu. Mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás. Especialista em Vigilância Ambiental em Saúde pela UFRJ e em Administração Rural pela Universidade Federal de Viçosa. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Goiás. Presidente da Comissão de Animais Selvagens e Meio Ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás - CRMV/GO. Membro da Comissão Nacional de Animais Selvagens - CFMV. É Perita Judicial nos crimes que envolvem Meio Ambiente e a Fauna. Co-autora do Manual de Atuação Funcional - FAUNA juntamente com Ministério Público do Estado de Goiás (área Meio Ambiente e Consumidor) e CRMV/GO. Ela publicou o livro Maus-tratos aos Animais Silvestres de Estimação: Aspectos éticos e ambientais. Coordenadora de Fauna da Prefeitura de Anápolis. Integra o Núcleo de Medicina da Conservação e Saúde Ambiental do Instituto Jurumi. Fundadora do CEVAS – Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens.


Qual foi o ponto crucial que te fez escolher medicina veterinária? O que te fez querer trabalhar com reabilitação animal? O amor aos animais. Sou uma amante do meio ambiente e fico muito triste em saber que ainda temos poucos profissionais na área de silvestres e negligência dos gestores políticos para esta causa.

Poderia nos contar mais sobre como foi fundar o CEVAS? Sou Médica Veterinária concursada na Prefeitura de Anápolis e infelizmente não há local para reabilitação dos animais silvestres. Os animais, por stress do transporte e térmico, tinham poucas chances de sobrevivência quando tínhamos que encaminhar ao CETAS/IBAMA em Goiânia. Comecei a receber e reabilitar em casa, mas a demanda só aumentava, quando resolvi fundar o CEVAS – Centro Voluntário de Reabilitação de Animais Selvagens.

Quais são seus maiores obstáculos em trabalhar nessa área? Bem como, quais são os pontos positivos? Os custos são os maiores obstáculos. Muito gratificante poder devolver um animal ao seu habitat natural, diminuindo assim, chances de entrar em extinção espécies atropeladas.



O que te fez querer se envolver judicialmente, sendo perita em casos de crime contra fauna e coordenadora de Fauna da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Anápolis? Fui convidada por um Juiz a trabalhar como Perita Judicial, pois há poucos profissionais na área. Sou coordenadora, pois além de concursada tenho experiência e qualificação na área.

O que você fala no seu livro Maus-tratos aos Animais Silvestres de Estimação: Aspectos éticos e ambientais. Tem como objetivo compreender como se dá a relação entre os indivíduos e os animais silvestres criados como estimação, mais especificamente, como esta relação fundamenta os maus-tratos a estes animais. Define o grupo de casos de maus-tratos aos animais; identifica qual espécies animal mais envolvida nos maus-tratos, avalia qual a espécie mais procurada para serem criadas como animais de estimação; analisa os aspectos éticos e comportamentais que levam as pessoas a adotarem animais silvestres como estimação; avalia os impactos decorrentes da subtração destes animais dentro do Ecossistema, quanto à conservação das espécies e do meio ambiente. Pretende publicar outro livro? Sim, se Deus quiser!

Você concorda com animais de estimação incluírem os silvestres, como primatas? Os animais silvestres foram criados para viverem em liberdade na natureza, comprar ou retirar animais da natureza são atitudes que vêm desencadeando uma drástica ameaça para a fauna, em geral com a consequente diminuição da biodiversidade biológica.

Tem algo que gostaria de dizer para pessoas que pretendem trabalhar com o meio ambiente? Sim, o trabalho com educação ambiental realizado com crianças é de suma importância, pois formamos cidadãos do bem que amarão e respeitarão o meio ambiente.

Na sua opinião, da maneira como estamos vivendo, qual sua visão de futuro se tratando das zoonoses? Continuaremos a presenciar o surgimento de diversas pandemias.

 
É Natural • Albinismo em tamanduá-bandeira
Albinismo é uma condição genética que expressa, dentre outras características, a alteração nos pigmentos naturais, o que provoca cores alvas. Essa formação se dá pela ausência de uma proteína, a melanina. É uma situação hereditária causada por um gene recessivo, em parte do DNA. Assim tanto o pai como a mãe precisam ter as mutações para que um descendente possa expressar a condição. Em humanos estima-se que a prevalência seja de 1 caso a cada de 16.000 aproximadamente. Em tamanduás é algo também muito raro, pouco documentando. As populações de tamanduás-bandeira tiveram uma diminuição expressiva e hoje têm um número estimado menor, se considerar as perdas nas décadas mais recentes. Então encontrar algum animal assim é muito raro. Um caso está sendo acompanhado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres – ICAS, por meio do projeto Bandeiras e Rodovias. O projeto se dedica exatamente aos estudos relacionados à ecologia de estradas, especialmente a essa espécie, numa das principais causas de diminuição da população. Na medida em que há menos animais, a chance de pai e mãe tamanduá serem portadores do gene e ter filhotes com albinismo, uma herança autossômica recessiva, se torna mais provável. Os animais com essa característica têm menor possibilidade de camuflagem, uma das formas de defesa em ambientes selvagens. Assim, os estudos conduzidos pelo ICAS vão contribuir para mais conhecimento sobre esses temas.

Natu 35 • 14/02/2023 • Perereca-bruxa (Phyllodytes luteolus) ■ Redação • Direção: Rodrigo Viana; Conteúdo: Henrique Rodrigues; Livia Malatrasi; Rebeka Câmara; Fotografias: Alan Araujo; Gabriele Andreia; ICAS / Projeto Bandeiras e Rodovias.
 
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